Camuflada pela natureza entre a Marginal e a linha do comboio, a Bataria da Lage passou de instalação militar onde “não havia nada” para um local em que “há fins-de-semana com centenas de visitantes”. Motivos não faltam, desde uma cozinha social de boa fama até um pinhal ideal para escuteiros e jogos de guerra, entre muitas actividades desportivas e culturais… Na mira da Associação de Comandos, que gere o espaço, está a criação de três núcleos museológicos.
Ainda desconhecida por muitos oeirenses, a Bataria da Lage, localizada em Paço de Arcos, guarda um dos melhores miradouros para a linha de água que estava sob vigilância das três peças de artilharia ali colocadas para proteger a foz do rio Tejo e a entrada do Porto de Lisboa. Actualmente, porém, tem vários outros factores de atracção, que tem justificado uma crescente actividade humana no recinto, corolário de um processo que se iniciou, em finais de 2000, com os primeiros passos na cedência daquele espaço à Associação de Comandos.
“Quando tomamos conta disto, não havia nada, nem sequer um portão de entrada, estava tudo abandonado”, recorda António Sampaio, membro da direcção nacional da Associação de Comandos e responsável pela gestão da Bataria da Lage, com a colaboração directa do sargento-mor Carlos Matias.
Hoje em dia, porém, o cenário é muito diferente. Inclui uma cozinha social – muito procurada para almoços em cuja ementa estão presentes, com regularidade, alguns pratos típicos dos antigos territórios ultramarinos – salas de jogos (desde bilhar às damas, xadrez e outros semelhantes), a sede do agrupamento de ‘motards’ da Associação de Comandos, um salão para exposições, um auditório… Depois, num plano de terreno superior, por entre o pinhal, aparece uma pista de obstáculos com alguns aparelhos de preparação fisíca e militar (‘rappel’ e ‘slide’, com versão para ‘barba rija’ e outra ‘para crianças e senhoras’), bem como um percurso de arborismo, além de muito espaço verde para caminhar ou correr, ou não estivéssemos, afinal, num Centro de Desporto e Aventura.
A um canto do arvoredo vêem-se pilhas de troncos de madeira. “São usados pelos escuteiros e outros jovens que nos pedem para fazerem aqui alguns dias de acampamento e nós acedemos com todo o gosto”, explica António Sampaio, lembrando, a talho de foice, uma iniciativa que envolveu “mais de 5200 escuteiros”.
Na verdade, embora esteja cedido à Associação de Comandos, o recinto tem tido um usufruto cada vez maior por parte de outros militares e forças de segurança, bem como por organizações da sociedade civil, assegura o nosso interlocutor, exemplificando: profissionais da PSP, da GNR, Marinha, da Câmara de Oeiras, escuteiros, bombeiros…
Sem esquecer “uma horta cujo objectivo é dar aulas às crianças sobre agricultura, reciclagem e outros assuntos ligados à Natureza”.
MELHORIAS RECENTES
É neste contexto de crescimento que se enquadram as mais recentes obras de requalificação ali realizadas, as quais incluíram o parque de merendas e os balneários e vestiários de apoio à zona de acampamento, As obras, inauguradas no passado fim-de–semana, contaram, como tem acontecido, com a força de braços e o apoio de doações em materiais dos sócios daquela associação ou de amigos da mesma. Mas, neste caso, beneficiaram, também, de um contributo financeiro da Câmara de Oeiras, na ordem dos 40 mil euros, no que os responsáveis pela gestão da Bataria interpretam como um reconhecimento do seu papel social, recreativo e cultural, assim como um incentivo à manutenção da estratégia de abertura daquelas antigas instalações militares à comunidade civil em geral.
“Há fins-de-semana em que passam por aqui centenas de pessoas”, congratula-se António Sampaio. “Temos aqui muitas valências desportivas: desde tiro ao alvo, ‘slide’, ‘rappel’, arco, arborismo, pista de obstáculos, ‘paintball’, ‘airsoft’, jogos tradicionais portugueses, atletismo, BTT, orientação, etc, cerca de 20 valências desportivas ao todo”, acrescenta.
Jorge A. Ferreira
TRÊS MUSEUS NA FORJA
Reforçada a zona do parque de merendas e dos balneários e vestiários, a Associação de Comandos avança já para nova missão: está em curso a transformação dos três bunkers, originalmente usados como depósitos das munições que alimentavam as três peças de artilharia ali existentes, em outros tantos núcleos museológicos.
“Um será dedicado à artilharia de costa, cobrindo a história do local, outro será sobre a Associação de Comandos e, o terceiro, sobre os próprios Comandos”, revela o nosso interlocutor.
As obras já começaram e “os projectos estão feitos e foram já aprovados pelas hierarquias militares”, prevendo no concreto que peças constarão do acervo (a ceder por organizações militares) e como serão expostas, condições e cuidados a ter…
“Penso que em meados do ano do próximo ano poderemos fazer a inauguração dos novos espaços museológicos”, perspectiva António Sampaio.
Outros objectivos passam pela melhoria das condições de estadia no miradouro em frente às peças de artilharia – onde está parqueada a chaimite usada pelo comandante do Regimento de Comandos Jaime Neves nas operações do 25 de Novembro de 1975 -, bem como por disponibilizar instalações, com base em contentores, que permitam a pernoita para “famílias de sócios que se desloquem de longe, seja de dentro do país ou mesmo das delegações que temos no estrangeiro”.
(in Jornal da Região)